Trekking Ausangate 5 dias e 4 noites
O Ausangate é a montanha mais alta da Cordilheira Vilcanota, com 6.384 metros de altura, faz parte dos Andes Peruano, Região de Cusco. Existem várias possibilidades de trekkings na região, mas o mais tradicional é o que da a volta no Ausangate, levando em média de 04 a 08 dias, dependendo do tempo disponível e o que se quer conhecer. Depois de conhecer vários circuitos de caminhada no Peru chegou a vez de conhecer este lugar mágico.
Realizei a viagem no início de agosto de 2019, na melhor época para conhecer a região, pois embora frio, não tem chuvas. O trekking pode ser realizado entre maio e outubro e é considerado de moderado a difícil por conta da altitude, pois se está praticamente todo tempo acima dos 4.500 metros de altitude.
Depois de muito pesquisar
na internet, decidi contratar uma agência somente em Cusco, o que se
revelou uma boa decisão. Acabei fechando o passeio de 5 dias e 4 noites
com a Sonnco Tours.
1º Dia
No dia programado um representante da agência veio nos buscar no Hostel, às 08:30 horas da manhã, e
nos acompanhou até o terminal de ônibus del Corredor. Tomamos um ônibus
da empresa Saywas com destino ao povoado de Tinky, em Ocongate. A
viagem dura 3:30 horas e tem ônibus de 30 em 30 minutos, entre as 9:00 e
18:00 horas.
A estrada até lá é a Interoceânica Sur que chega até Rio Branco, no Brasil. O caminho
passa pelo “Vale Sagrado Sur” e por Urcos. Depois de Urcos a estrada
vai subindo em caracóis até o Passo ou “Abra Cuyuni” a 4.185 metros de
altitude. A partir daí já se pode vislumbrar o majestoso complexo do
Ausangate e já dá uma emoção sentir que logo mais estaremos caminhando
por entre seus vales.
Chegamos em Tinky, a
3.850 metros de altitude, as 12:30 da manhã. Descemos em frente ao
Mercado Público do povoado onde nos aguardava nosso simpático guia local
Felipe.
Tinky é um pequeno
vilarejo, bastante simples, que recentemente tem recebido alguma
projeção turística por conta dos viajantes que querem fazer o Trekking
do Ausangate, mais recentemente um passeio menos pesado, de um dia
apenas, que é o das “Slete Lagunas do Ausangate”.
Felipe nos levou para almoçar e depois fomos a um mercadinho onde ele comprou os mantimentos para a travessia, nos permitindo escolher o cardápio, inclusive frutas e verduras.Seguimos caminhando por cerca de três horas até a casa de Felipe, em Upis, montanha acima superando um desnível de cerca de 400 metros. Neste trecho se vislumbra sempre o Ausangate (masculino) à esquerda e Cayangate (feminino) à direita, por um caminho de terra batida usada pelos moradores locais, passando pelas propriedades com suas casinhas sempre de adobe, alpacas e alguns cavalos, e campos sendo preparados para a plantação de papas (batatas) e capim verde amarelado nesta época do ano, pois já está tudo bem seco.
Felipe tem uma casinha onde, no segundo andar, aloja os turistas (4 camas) com um bonito visual do Vale e das montanhas Ausangate e Cayangate (ou Callangate). O lugar é um pouco empoeirado, mas bem quentinho. Logo em frente há outra construção que é a cozinha, construída em adobe chão de terra batida. A família morra no outro extremo do terreno.
Um pouco depois de
chegarmos percebi que estávamos sendo espiados por quatro pares de
olhinhos tímidos, mas curiosos. Eram as filhas de Felipe. Com jeitinho
puxei conversa com elas e aos poucos elas foram ficando mais confiantes
e, em meio a risadinhas, iam responde às minhas perguntas. A mais velha
tem 12 anos e, a mais pequena, cerca de seis anos. Todas vão à escola e
Felipe quer que elas sigam estudando após terminar o que seria o
equivalente ao primeiro grau.
Ali tivemos o mais bonito pôr do sol a iluminar o Ausangate de frente, em lindos tons amarelo alaranjados.
A noite foi bem fria, mas iluminada por uma lua fantástica, quase cheia. Embora tivesse vontade de ficar na rua admirando aquele espetáculo, não fiquei muito tempo, pois estava muito frio. A estreia de Felipe como cozinheiro foi satisfatória. Preparou uma sopa de verduras, arroz, papas fritas e frango.
2º Dia
Levantamos às 6:30 horas
da manhã com o sol já despontando no horizonte e nos deparamos com uma
forte “helada” (geada). Felipe preparou o café da manhã e depois
organizou tudo nos cavalos.
Iniciamos a caminha perto
das 08:30 da manhã, ainda com a geada e todos os pontos de água não
corrente congelados. Seguimos ainda por algum tempo seguindo a
estradinha de terra (poeirenta) e depois passamos para uma trilha.
Depois de cerca de duas horas, sempre subindo, chegamos a uma bonita “Pampa” (em quechua significa região plano), literalmente aos pés da montanha, com alguns moradores e muitas alpacas, ainda em Upis, a 4.400 metros de altitude. É neste local que costuma ser o acampamento para quem não fica na casa dos guias. Ali tem uma fonte de águas termais, mas não tem sido usada turisticamente, pois seguindo Felipe não é constante. Reiniciamos a subida, não tão íngreme, mas incessante, por quase duas horas, com o Ausangate e seus glaciares, sempre à esquerda até o Passo Arapa, a 4.780 metros de altitude.
A partir do Passo Arapa, caminhamos por cerca de meia hora na parte alta, por um visual quase lunar, sem praticamente nenhuma vegetação, apenas areia e pedras. Depois começados a descer, por cerca de uma hora, até o vale Huayna Ausangate e um pouco antes de chegar a Lagoa Hucchuy Puccacocha paramos para o almoço.
Ali deliberamos que deixaríamos de lado o Vinicunca, que pretendíamos “atacar” na madrugada do dia seguinte, pois estávamos sentindo a altitude e a inclusão do Vinicunca tornaria o dia seguinte pesado demais.
Após a “sesta” de meia
horinha seguimos a caminhada passando pelas lagunas Hucchuy Puccacocha,
Hatum Pucaccocha e Comerocconha, sempre com o Ausangate à esquerda. Foi
um caminho lindo, com tempo perfeito, casinhas de adobe dos moradores
locais, que se ficam nesta região somente durante esta época do ano,
para cuidar dos rebanhos de alpacas. Neste trecho visualizamos dois acampamentos, geralmente utilizados por quem pretende ir ao Vinicunca no dia seguinte. Um
fica à direita, na base do Ausangate, bem pertinho das lagunas e outro o
acampamento Sorinama, fica em frente à montanha do mesmo nome, à
direita do caminho, mas seguimos sempre subindo até o Passo Ausangate, a
cerca de 4.800 metros de altitude, onde chegamos já com os últimos
raios de sol.
A partir do passo se desce quase vertiginosamente em zig zag até o acampamento da Laguna Ausangateocha, em um desnível de cerca 250 metros. Chegamos ao acampamento já ao escurecer e com a lua despontando no horizonte. Este acampamento está localizado bem pertinho da Laguna Ausangatecocha, que fica em frente a um enorme glaciar. Conta com bons banheiros e lugar para lavar roupa e louça. O vento estava bem gelado, mas a noite com lua cheia estava divina. Felipe falou que o vento iria parar pelas 22 horas e acertou. Não sei a temperatura, mas foi uma noite muito fria.
3º Dia
Novamente o dia amanheceu
com “helada”. Levantamos com o despontar do sol e logo após o café da
manhã fui dar uma espiada na Laguna Ausangatecocha bem de pertinho. Suas
águas são muito verdes e cristalinas, resultado do degelo do glaciar
logo em frente. Segundo Felipe há 12 anos, quando começou a ser guia na
região, não havia a laguna ali, o que demonstra que o glaciar está perdendo espaço.
Após conhecer a laguna de pertinho iniciei a subida um pouco antes dos outros, pois estava caminhando mais devagar, por causa da altitude. Nesta parte do caminho se sobre SEMPRE, com muitos zig zags de 4.650 metros de altitude até chegar em 5.200 metros de altitude, no Passo Palomani. É considerada a parte da mais difícil do caminho, por motivos óbvios. Mas, fazendo o caminho com calma, com direito a muitas fotos do “Valle Rojo” (vale vermelho), se vence sem grande sacrifício.
Reiniciamos a descida e cerca de 20 minutos depois começados a enxergar uma pequena laguna de laranja avermelhadas, aos pés do glaciar, à esquerda, que segundo Felipe, existe apenas a cerca de quatro anos. Mais a frente, se vislumbra um bonito trecho da montanha vermelho arroxeada.
Seguimos sempre descendo até uma pampa muito bonita com visual espetacular daquele setor do Ausangate.
Descemos mais um pouco e chegamos a outra pampa, bem mais ampla (Vale de Chilca), onde em frente a uma “loma” de pedras muito rosas, Felipe preparou nosso almoço.
Após o almoço, seguimos adentrando o vale, sempre à esquerda e, depois de uma subida não muito íngreme, chegamos a Huchui Phinaya a cerca de 4.650 metros de altitude. Lugar muito lindo com um rio muito azul serpenteando o vale com rebanhos de alpacas, com o Puca Punta e seus dois picos ao fundo.
O acampamento fica no
extremo da pampa, do lado esquerdo, e dispõem de banheiros, pias e
tanques, como o do dia anterior. Neste dia chegamos cedinho e pudemos
apreciar o pôr do sol. Porém, para o lado do Santa Catalina estava bem
nublado e tivemos o interessante efeito de estar vendo os raios do
iluminando o Puca Punta em frente enquanto caiam flocos de
neve sobre o acampamento e estar bem escuro na montanha às nossas
costas. Mas a neve não durou muito e noite foi de lua cheia.Neste
acampamento tivemos o prazer de encontrar um valoroso casal de
brasileiros, de Passo Fundo, que estava fazendo o trekking de forma
totalmente independente.
4º Dia
Levantamos com o
despontar do sol, como nos outros dias, e logo depois do café da manhã
retomei a caminhada. O caminho segue pelo Vale em frente, sempre à
esquerda, contornando o Santa Catalina e o Puca Punta à direita. Estava muito frio, com os pequenos riachinhos estavam congelados, e até mesmo as margens do rio.
A subida não é muito íngreme, mas intermitente até o Passo Jampa ou “Abra Qqampa”, a cerca de 5100 metros de altitude. É uma região que se destaca pelo colorida das rochas, com destaque para os quartizitos de cor rosa, vermelho e verde. A localização do passo é interessante, pois está de frente ao Nevando Jampa, que lhe dá o nome, e muito pertinho dos glaciares.
Reiniciamos a descida em um trilha bem estreita e pedregosa, avistando ao longe três lagunas Alcacocha . Depois de cerca de uma hora de caminhada há uma bifurcação com uma placa e se pega a trilha da esquerda (Jhampa). Neste ponto perdido no meio do nada, haviam três senhoras vendendo bonitos artesanatos de alpaca. Não resisti e tive que comprar.
Um pouco depois da bifurcação fica o acampamento Paschapata. Após caminhar por mais alguns minutos passamos a avistar uma pampa e várias bonitas lagunas de águas muito lindas, sendo a maior e de águas mais claras a Laguna Pucacocha. Este trecho é conhecido como Siete Lagunas do Ausangate e tem passeios de um ou dois dia saindo de Cusco para a região.
Ai fica o acampamento Pucacocha embora não fosse nosso destino do dia, me deu muita vontade de acampar ali, pois o visual das lagoas é fantástico. Neste dia tive o prazer de almoçar de frente ao pico do Ausangate. Privilégio para poucos e que faz valer muito a pena a caminhada.
Neste setor tem sete lagunas e uma das que mais impressiona é a Laguna Azulcocha, pequena, mas profunda e com águas de um azul surpreendente.
Após atravessar a pampa segue a descida para Pachamta, localizada a 4.300 metros de altitude. Chegamos perto das 17 horas e nos instalamos em um hostel, da familiares do Felipe, bem em frente as termas, pagando 10 soles por pessoa. É bem simples, mas de acordo com o que se encontra na região. Ficamos no segundo andar, com vista para as termas e o Ausangate.
Fomos nos banhar nas termas já com o sol se pondo, pagando 5 soles. Fiquei até escurecer alternando entre a piscina de água super quente, direto da fonte, e a de água morninha resultante da mistura com água fria. A parte ruim que para tomar banho com sabonete e lavar o cabelo com shampoo você tem usar uma ducha que fica 100% ao ar livre. Como estava noite e muito frio amarelei e não lavei os cabelos. A estrutura é super básica, mas o visual é fantástico. Sai da piscina direto para o hostel e me troquei no quarto.Depois descemos para o primeiro andar onde Felipe preparou nosso ultimo jantar.
5º Dia
Levantei cedinho e meu
companheiro de caminhada já estava na piscina esperando o sol nascer.
Não me animei, pois estava bem frio e esperei o café da manhã, que neste
dia consistia de panquecas feitas na hora, com doce de leite. O trajeto
do último dia é bem mais tranquilo, pois se segue sempre por uma
estradinha de terra, passando por diversos pequenos povoados, até chegar
em Tinki.
Como era bem cedinho passei por diversas crianças indo para a escola e camponeses trabalhando nas plantações de papas ou lindando com alpacas. Já mais perto de Tinki aparece um outro carro, o que levanta muita poeira da estrada. Chegamos em Tinki peças 10:30 da manhã e após nos despedirmos de Felipe tomamos o ônibus das 11 horas com destino a Cusco, onde chegamos perto das 15 horas.
Contratei o passeio com a
Soncco Tours, por USD 230,00, incluindo passagem de ida e volta,
refeições, guia/cozinheiro/arriero (Felipe), barracas, cavalo para
equipamentos comuns e mais 5 quilos de bagagem individual. Não incluído o
saco de dormir, café da manhã do primeiro dia, almoço do último dia.
Custos extras: 10 soles
na entrada, 10 soles acampamento Ausangatecocha, 10 soles acampamento
Huchuy Pinaya, 10 soles hostel em Pachanta e 5 soles nas termas de
Pachanta.
Eu realizei o passeio com
a agência Soncco Tours, com Evelin +51 964-289453, por USD 230,00 (base
duas pessoas). Recomento ainda a Qorianka Tour +51 974-739305 ou direto com Renato no watts +51 986-960796 e Inkapal,
com Rubens, +51 931-325 810 (USD 280,00), ambas ótimas agências que me
atenderam super bem em outros roteiros, porém com preços mais
salgados(em torno de USD 350 a USD 400,00).
Mas deixo a super
recomendação de contratar direto o nosso excelente e muito confiável
guia Felipe, watts +51 974 513-747, que cobra somente 480,00 soles por
pessoa (base duas pessoas) e foi quem fez tudo em realidade. Somente
será necessário comprar a passagem em Cusco e encontrá-lo no dia e
horário combinado em Tinki. Além de ser mais barato é uma forma de
remunerar melhor e diretamente os moradores locais.
Outro guia muito
prestigiado na região é o Cirilo watts +51 941 005 350. Cheguei a
contá-lo, mas ele já estaca com saídas agendadas para o mesmo período.
Para quem faz questão de
conhecer o Vinicunca tem uma opção que achei interessante, que a faz o
caminho no sentido contrário: Tinki- Pachanta, Pachanta - Hunuy Pinaya, Hunuy
Pinaya –Ausangatecocha, Ausangatecocha - Ananta (Lagunas coloridas), no
último dia Ananta a Montanha Siete Colores / Vinicunca e retorno a
Cusco desde o vilarejo de Pitumarca – Checacupe. O Renato da Qorianca Tours me ofereceu esse passeio por USD 380,00.
Dicas: Verifique antes a qualidade da barraca e isolante oferecidos e do saco de dormir, acaso vá alugar. Em
geral o equipamento é por conta do guia local e como é uma região bem
pobre, pode deixar muito a desejar. Se tiver equipamento próprio que
vale a pena levar o seu.
- atentar que por causa
da altitude as noites são bem frias. Eu fui com meu saco de dormir -7 º
conforto e mais um cobertor fininho, tipo liner e ia dormir com as roupas polartek da Solo e não passei frio, apesar das noites bastante frias;
- protetor solar e manteiga de cacau ou protetor para os lábios também são importantes, pois o sol é forte e o vento bem frio;
- levar papel higiênico e saquinhos ou sacolas para acondicionar o lixo;
- mesmo que contrate
agência levar soles para pagar acampamento/alojamento/termas e algum
artesanato local, em especial os texteis de alpaca que são mais baratos
do que em Cusco;
- para quem tem bom
condicionamento físico, está bem adaptado na altitude, não quer/pode
gastar muito, ou quer uma aventura mais raiz, é perfeitamente possível
fazer o passeio por conta. O caminho é bem marcado, mas um GPS é
fundamental, pois pode chover nevar, ou a noite pode chegar sem que
tenha chegado ao acampamento.
Altitudes e distâncias aproximadas, pois não usei GPS:
1º dia: Tinki – 3.850 m – Vilarejo de Upis (casa do Felipe) – cerca de 4.200m – 8 km;
2º dia: Upis – 4.200 m, Passo Arapa – 4.780, Passo Ausangate – 4.800, Ausangatecocha 4.650 m – 18 km;
3 º dia – Ausangatecocha – 4.650m, Passo Palomani – 5.200m, Huchuy Pinaya – 4.660 – 13 km
4º dia – Huchuy Pinaya – 4.660m, Passo Jampa – 5.100m, Pachanta – 4.330m – distância 18 km
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